Thursday, May 31, 2007

Renovação ou sacriléio?





Com a instauração da República, a Igreja Católica começou a perder os seus templos. A Lei da Separação do Estado das igrejas (1911) determinou a nacionalização de toda a propriedade eclesiástica. Uma parte significativa dos edifícios expropriados foi então destinada à instalação de serviços de interesse público.
Alguns não resistiram à passagem dos anos e acabaram em ruínas, outros, adaptados às suas novas funções, prolongaram a sua existência até aos nossos dias. Muitos destes antigos templos da fé católica passaram a restaurantes, cafés, salas de cinema, casas mortuárias, sem, contudo, desvirtuarem a estética e arquitecturas interiores e exteriores dos edifícios.
A história que se conta sobre o restaurante de fados Mesa de Frades é a de um amor proibido encoberto por uma capela. Reza a lenda que o rei D. José I mandou reconstruir naquele local, após o terramoto de 1755, um palácio para oferecer a uma tal dona Rosa. Os dois encontravam-se no piso de cima e o rei saía pela capela. Os cinco painéis de azulejos que cobrem as paredes e a pia baptismal são a maior riqueza daquele pequeno restaurante e a prova viva que ali já existiu uma capela.

O Café Santa Cruz fica situado na zona nobre e cosmopolita de Coimbra e é contíguo ao mosteiro de Santa Cruz. Em 1530 era precisamente ali que se reunia o povo para assistir às missas enquanto a nobreza ia à Sé. Onde agora se servem cafés e finos, já existiu um espaço de culto católico – a Igreja de São João das Donas. Em 1919 abriram-se ali as portas do Café Restaurante (designação mantida na fachada). O interior do café mantém a primitiva estrutura atribuída a Diogo de Castilho (1530) – resistiram aos tempos e aos vários negócios que por ali passaram as abóbadas de nervuras e os vitrais.
José António Falcão, um dos maiores especialistas nacionais em património religioso considera que “Hoje há igrejas a mais em Portugal, muitas estão fechadas, e as autoridades religiosas têm de pensar numa forma de, no futuro, salvaguardar a dignidade possível dos actuais locais de culto. Um dos caminhos é a sua venda para recuperação e transformação em espaços culturais.”



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